Transição capilar ou do cabelo liso às ondas, capítulo 1: a decisão
Das histórias que já escutei sobre transição capilar, todas foram de meninas de cabelo cacheado. Esses relatos a gente pode encontrar com facilidade na web, porque há muitas cacheadas bacanas e decididas que contaram seus dramas, descobertas e vitórias em relação à volta ao cabelo natural.
A minha transição capilar, no entanto, é um pouquinho diferente. Primeiro, porque meu cabelo está voltando para as ondas, não para os cachos. Depois, porque eu já fui lisa um dia – na infância, meu cabelo era cheio, mas bem lisinho. E continuou assim até a pré-adolescência, quando os hormônios começaram a mudar o meu corpo e também a deixar os fios ondulados e armados.
Naquela época, na década de 1990, todo comercial de xampu trazia modelos de cabelos lisos (que eram o ideal de beleza, sem dúvida), não havia produtos destinados aos cabelos ondulados e cacheados nas prateleiras e a mim – muito nova, inexperiente e desinformada – coube a frustração de lidar com o novo cabelo da maneira que eu sabia: pentear na esperança de deixa-lo mais liso (ô inocência!) e, sem conseguir, prendê-lo num rabo de cavalo ou mantê-lo curtinho num corte meticulosamente repicado para que o volume ficasse um pouco mais controlado.
O primeiro alisamento que eu fiz foi ainda muito nova. A cabeleireira? Minha irmã, com produtos comprados na esquina, escondida de minha mãe. Minha idade? 12 ou 13 anos, acredito. O resultado: olhos e pele ardidos e um corte químico, bem na raiz, em quatro grandes mechas. Anos depois eu fui a um cabeleireiro renomado aqui em Salvador que alisou o meu cabelo por anos com guanidina. Eu não amava o resultado, pois as pontas ficavam duras, mas era o que tinha disponível no momento… Até que, no ano de 2008, ele deu uma bela vacilada, esqueceu o produto no meu cabelo por mais tempo do que o devido e deixou todo o meu couro cabeludo queimado. A região toda virou uma grande ferida, doeu muito, tive que ir na dermatologista, fazer tratamento e até usar lenço, pois todos os fios ficaram grudados na crosta que se formou em resposta à agressão – um grande trauma.
A fase OK do alisamento
Depois dessa experiência terrível, fiquei uns dois anos sem enfrentar química e super insatisfeita com o cabelo: a raiz mega armada, a ponta dura e o corte no pescoço, pois pior seria se deixasse longo. Não considerei deixar de alisar na época, porque ainda não acreditava ser possível ter um cabelo bonito sem química (que loucura…); a minha questão era conseguir confiar em um outro cabeleireiro depois daquela experiência. Foi quando eu fui até Rony, que tinha feito o meu penteado de noiva (nesse meio tempo, eu havia casado) e que já alisava o cabelo da minha irmã há algum tempo. Fiquei super satisfeita com ele durante cinco anos, e com o cabelo liso que suas técnicas me proporcionavam.
Não posso dizer exatamente que tipo de produto Rony usava. Sabe quando o cabeleireiro sabe exatamente o resultado que você quer e consegue adaptar produtos e técnicas para chegar lá? Pois bem, eu, que tinha passado por um big trauma, encontrei por fim um profissional no qual confiava cegamente. Eu dizia o que eu queria (às vezes nem precisava dizer muita coisa) e ele acertava na mosca toda vez, inclusive no corte. O ritual básico era aplicar o produto, secar o cabelo com secador, pranchar as mechas e por fim enxaguar, mas ele sempre fazia adaptações. Às vezes, aplicava o produto só na raiz; em outras, puxava mais para o comprimento (mas nunca até a ponta); às vezes pegava todas as mechas; outras vezes só as do topo da cabeça, outras vezes mais as do contorno do rosto, e assim ia.
O meu cabelo ficava com a raiz lisa e com bastante movimento na ponta. Vocês podem checar nessas fotos aí acima, a primeira com secagem ao natural, a segunda com acabamento feito com baby-liss (nas pontas).
E se o resultado era bom, por que a transição?
Com todo esse amor pelo trabalho de Rony, dá pra imaginar que a minha transição capilar não foi muito planejada, e de fato não foi. Eu já via meninas cacheadas na rua e achava a coisa mais linda do mundo, os produtos para esse tipo de cabelo apareciam cada vez em maior número no mercado e o tema “beleza natural” estava em alta, mas ainda não havia tomado aquilo pra mim. Até que um dia minha mãe foi na dermato com queixa de queda de cabelo e nessa consulta a doutora sondou se ela alisava o cabelo, pois a prática, no longo prazo, deixava a fibra do fio mais frágil e propensa à quebra e à queda. A médica explicou que, apesar de não haver uma pesquisa específica comprovando essa relação direta, no dia a dia do consultório dela 90% das mulheres com queixa de queda de cabelo alisavam os fios há anos. E contou também que, como a maioria dos alisamentos sela a cutícula, o fio fica impenetrável e responde muito pouco aos tratamentos anti-queda/quebra. Quando minha mãe me contou tudo aquilo, arregalei os olhos e me dei conta de que eu já usava técnicas de alisamento há uns 15 anos! Fiquei super preocupada com a saúde do meu cabelo e passei a considerar fazer a tal transição capilar.
Na época – meados do ano passado –, eu tinha tido o meu caçula há pouco tempo, estava sem alisar o cabelo há mais de um ano e com a raiz enorme. Se era pra fazer, a hora era aquela! Tomei coragem, pedi indicação para as queridas amigas da beleza Giovana Leddomado e Vanessa Ventura (minha diva cacheada, também colaboradora aqui do Blog das Convidadas) e caí nas mãos do cabeleireiro Ed Santana, dono do salão Descabelado e especialista em cabelos naturais. A ideia era não simplesmente tirar a química, mas me aconselhar com um profissional que me ajudasse a re-conhecer o meu cabelo real e reconstruir essa relação do zero. O meu cabelo era um enigma para mim, há anos não lidava diretamente com suas características originais. Como cuidar, lavar, estilizar? Não tinha a menor ideia. Aliás, nem sabia se o meu cabelo era cacheado, ondulado, rebelde, ressecado ou sei lá o quê…
Quando cheguei para cortar, veio a grande pergunta “Que corte você está procurando?”. Resposta “Não sei!”! Rsrsrs… Contei pra Ed a minha história, dei algumas diretrizes do que gostava e do que não gostava e deixei nas mãos dele. Estava entrando em terreno desconhecido, não havia feito muitas pesquisas antes porque queria uma experiência 100% minha, sem me contaminar com o que havia acontecido com os outros, sabe? Então, cheguei lá sem nenhuma referência de estilo. E foi aí que começou o meu processo de transição para valer. Como ele rolou, você vai saber no post da semana que vem!
Fotos: arquivo pessoal
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