A volta dos perfumes aldeídicos: nova tendência da perfumaria

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Já ouviu falar de uma família olfativa chamada Floral Aldeídica?

Talvez não, mas certamente você já sentiu na pele, ou em alguma amiga ou conhecida, perfumes como Chanel 5, Dolce & Gabbana tradicional (o do frasco com tampa vermelhinha), White Linen, da Estée Lauder, ou First, da Van Cleef & Arpels. Cada um com seu charme, todos chiquérrimos e todos também integrantes do grupo dos florais aldeídicos, perfumes de estrutura bem clássica e feminina. Imagine um buquê de rosas, jasmins e gardênias com uma base bem amadeirada. E com um detalhe diferente que quebra qualquer eventual efeito pesado ou enjoativo, um toque iluminador que só o aldeído traz.

O aldeído é um composto sintético superversátil. Dependendo da composição molecular, pode remeter ao aroma borbulhante de champagne, ou ao de talco bem soltinho, ou ao de roupa recém-passada (aquele cheirinho meio metálico). Também existem alguns aldeídos que são bem cítricos, lembrando o cheiro da casca do grapefruit, e outros que não são lá muito agradáveis e podem até mesmo trazer um quê de gordura. Mas não importa o que ele cheira sozinho… o que vale é a mágica que ele faz dentro de uma composição no perfume e, por tabela, pela sua beleza. O aldeído levanta qualquer buquezinho caído. Acende as notas de saída de um perfume, age como se fosse aquele solzinho da manhã. Acreditem meninas… Monsieur Aldeído é luz.

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O aldeído foi utilizado pela primeira vez na perfumaria no famoso Chanel n. 5. Diz a lenda que o perfumista Ernest Beaux queria colocar um toquezinho do composto na formulação do Chanel 5, mas seu assistente de laboratório errou a mão: não entendeu o que o perfumista tinha escrito e dosou dez vezes a mais o ingrediente. Ao apresentar essa composição à mademoiselle Coco Chanel, ela simplesmente  amou a composição, diferente e ultramoderna. Achou a cara da mulher que amava beleza e perfumes e que usava Chanel no início da década de 20. Foi um erro que se tornou um acerto brilhante!

Desde 1921 até hoje, muita coisa mudou. O uso do aldeído foi extrapolado nos anos 50. Quase todas as fragrâncias daquela época imitaram o sucesso do Chanel 5. Loções corporais, colônias pra uso diário, e até mesmo spray de cabelo tinham a mesma composição olfativa. Então, passou um tempo na geladeira e, no auge do movimento hippie nos anos 70, voltou com tudo. Os florais aldeídicos se vestiram de resinaservas e foram lançados no mercado com um apelo natureba. Os anos 80 chegaram, com aquela pomposidade floral e pesadona, logo na sequência veio aquela onda de melancia e melão dos anos 90 (dos chicletes ao perfume!), e o aldeído caiu em desuso… foi associado a cheiro de “senhorinha que errou na dose  do perfume”. Que preconceito!

Felicidade suprema foi perceber que, alguns anos atrás, algumas marcas apostaram em lançar versões mais estilizadas e modernas de florais aldeídicos. A nova geração está incrível, traz composições de bases mais leves, menos “atalcadas” e muito elegantes que não abrem mão da feminilidade. Com o mercado de perfumaria sendo inundado de frutais e notas extremamente doces por todos os lados, elas surgem como um contraponto de elegância atemporal e mostram que esse tipo de composição pode ser remixado com a adição de notas bem frescas e arranjos florais menos voluptuosos.

Selecionei aqui o top 5 perfumes desta nova geração, aqueles que valem a pena você experimentar. Tente, e lembre de uma dica importante: se o conselho é sempre testar qualquer perfume na pele antes de descartar ou de levar para casa, a medida é ainda mais importante se a fragrância em questão se encaixa no grupo descrito neste nosso post. Os florais aldeídicos fazem mágica depois da primeira hora de uso!

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Eau Première, Chanel

Marcou o começo do renascimento do aldeído na perfumaria. É como se fosse o Chanel No 5, porém mais leve, moderno, e sem a pegada vintage da composição clássica. A maison enalteceu as notas fresquinhas de saída e atualizou as notas clássicas utilizando rosas e jasmim mais moderninhos.

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Jour D’Hermès, Hermès

A Maison Hermès conta com a alquimia do perfumista ultra minimalista e chic Jean Claude Elena. Este perfume se revela com notas ensolaradas de flor de laranjeira, que aos pouquinhos vão ficando mais refrescantes e herbais. Aos poucos o perfume chega em seu ápice, com notas de flores brancas e rosas. É extremamente elegante e ao mesmo tempo leve. Ótimo pro dia-a-dia.

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Ivoire, Balmain

Criado originalmente em 1979 pela Maison Balmain, o clássico perfume aldeídico ganhou uma cara nova: foi remodelado em 2012, e adquiriu um ar ultraleve. Assim como o Jour D’Hermès, tem notas de flor de laranjeira na saída, mas, em comparação com ele, é mais leve, porém mais sóbrio. Tão moderno usar Balmain na sua beleza!

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Le Parfum, Carven

Uma composição minimalista e ultrachic, o Le Parfum garante aquela sensação prolongada de pós banho, graças a uma combinação muito delicada de flor de mandarina jacinto branco (uma florzinha que tem um cheiro bem herbal) e das notas de fundo de sândalo e de patchouli.

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Replica, Martin Margiela

A marca ultra vanguardista de moda (e que também manda muito bem na beleza) que mistura o antigo com o novo e o discreto com o ousado, lançou ano passado uma coleção de oito perfumes, intitulada Replica. Uma das fragrâncias, batizada de Lazy Sunday Morning, foi inspirada no cheiro de pele sedosa e no de lençóis recém-lavados. A mistura de almíscar com aldeído é que dá à composição um cheirinho leve e ultradelicado de segunda pele.

Vocês já provaram algum destes perfumes? Se animaram a provar? Boa expedição olfativa no mundo dos aldeídos – e me contem aqui depois o que acharam!

Ah, em tempo: o perfume Martin Margiela só é encontrado fora do Brasil, mas os outros estão disponíveis por aqui, sim. Você pode comprá-los em perfumarias, como a Sephora e a Época Cosméticos, e, no caso do No 5, nas boutiques de beleza da Chanel.

Fotos: divulgação Chanel, Hermès, Balmain, Carven e Martin Margiela 

Costumo brincar e dizer que sou uma “cheiradora profissional”. E, jogo de palavras à parte, a verdade é que estou sempre procurando um novo frasquinho de perfume pra cheirar e decodificar o que têm lá dentro. Sempre fui apaixonada por perfumes, mas foi somente após me formar em Desenho Industrial que decidi trocar os projetos de automóveis pelo criação olfativa. Desde 1998 trabalho no desenvolvimento de fragrâncias e em 2007 fui transferida para Nova York para trabalhar com Design Olfativo. Em paralelo, fiz MBA em Gestão de Marcas de Luxo e tudo o que aprendi no curso agora me ajuda a analisar o frenesi de lançamentos – que não para um só minuto. Aqui no meu espaço dentro do Beauty Editor quero, além de explorar o universo das novidades, trazer pra vocês em primeira mão aquelas tendências que mal despontaram no mercado. E, claro, falar de outras gostosuras desse mundo cheirosérrimo – e delicioso demais.

Comments

  • Celi Aparecida de Souza

    Eu adorava o Hora Intima , usei nos anos 80 .Nunca conheci melhor… qual seria um aldeídico mais parecido com ele atualmente?

  • Lidiane

    Experimentei o Accordes Harmonia do Boticario e ameeei!!! Fui pesquisara familia olfativa e era floral aldeidico. Nao sei explicar, mas é um cheiro diferente que muito me agrada, cheiro de mulher clean e chique.

    • Maria Cecília Prado

      A família dos aldeídicos é realmente muito elegante. O Chanel 5 é um aldeídico – o que diz muita coisa sobre essa família, concorda? Beijo e até mais!

  • vera Lucia

    Oi, apaixonei-me pelo aldeídico Light Blue Dolce e Gabana – na versão eau de toilette.
    Estou com medo de comprar o Eau de Parfum (Intense) e ficar muito forte.
    Será que é muito forte? AMEI tanto.

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