Perfumes florais à base de rosas: um passeio por esse jardim de fragrâncias

Falar de rosas na perfumaria não é exatamente uma novidade. Mas, na busca constante por novidades, corremos o risco de perder o significado, os matizes e os afetos das histórias reais.

Com essa ideia em mente, segui adiante e resolvi inaugurar a minha colaboração aqui no Beauty Editor da Maria Cecília Prado – uma profissional que acompanho de longa data e que admiro pela credibilidade e pela pessoa que é – com o desafio que ela me propôs: “gostaria tanto de falar das rosas…”. Então, vamos estrear mergulhando nesse tema. E, a partir de hoje, vou estar aqui com você compartilhando meu mundo perfumado. Espero que aproveite a jornada!

Um jardim de rosas… de verdade

 

“Uma rosa é uma rosa é uma rosa é uma rosa”, Gertrude Stein, 1935.

Na minha vida, as rosas se dividem em antes e depois de uma visita que fiz aos jardins de Delbard, em 2009. Delbard é o maior cultivador de rosas do mundo e fica no centro da França, próximo à Vichy.

Em um dos projetos de perfumaria de que participei como profissional de casa de fragrâncias, propusemos ao cliente um projeto proativo para uma das marcas de beleza líderes do mercado brasileiro. Lá fomos nós, a equipe do cliente e a da casa de fragrâncias onde eu atuava na época, para a região central da França conhecer as rosas mais de perto.

Delbard parece saída de um conto de fadas. Um pequeno castelo com paredes de pedra, no meio do gramado, que abrigava no salão principal uma longa mesa de madeira escura, pesada, decorada por uma coleção de vasos transparentes e redondos, cada um com uma etiqueta que identificava à mão o tipo de rosas que cada um acomodava.

Elas tinham diversas cores: amarela, lilás, rosa, bege, laranja, branca… com perfumes incrivelmente surpreendentes e inesquecíveis. A mais alaranjada cheirava a grapefruit, cítrica amarga; a amarela cheirava a maracujá, floral e verde, cada flor tinha uma história e uma fragrância para contar e exalar. Foi uma festa para os sentidos, em uma época em que pouco se falava de experiências e de story telling.

O segredo para tanta variedade estava no cultivo de rosas híbridas, cruzamentos entre duas ou mais espécies existentes na natureza. A estratégia levou a novas cores, formas e perfumes – criou, enfim, aquelas rosas que estávamos vendo, usadas como ponto de partida para o desenvolvimento de novas notas perfumadas. Como? Seus aromas são “capturados” por especialistas utilizando-se a técnica de head space, na qual uma câmara ou uma seringa decodifica as moléculas dispersas no ar à volta de um determinado material (no caso, a flor). Após a captura, esses cheiros são reproduzidos em laboratório com a ajuda de modernos equipamentos e dos sensíveis e talentosos olfatos dos perfumistas.

Agora, quando se fala de rosas naturais – aquelas que são colhidas em plantações e destiladas para dar origem a essências –, são duas as principais espécies utilizadas, a Rosa Damascena, com seu perfume refinado e clássico, e a Rosa Centifólia (rosa de maio), mais verde e cítrica. Mas mesmo dentro destas duas espécies é possível encontrar variações.  Ao inspirá-las, é possível sentir uma nota frutal de damasco, uma lembrança de compota de violeta… Para se ter uma ideia, oito componentes dessas rosas foram identificados no ano de 1900. Em 1950, as descobertas subiram para 20, e em 1960, para 50. No final do século XX, havia mais de 400 componentes catalogados!

Se o jasmim é o rei das flores, a rosa é a rainha.

Toda essa riqueza explica a presença constante da rosa nas tendências da perfumaria. Entre tantas nuances e possibilidades, cabe ao perfumista criar infinitas e originais interpretações desse ingrediente que é um clássico.

Depois da viagem-experiência que resultou em dois novos perfumes de sucesso para a linha da empresa, nunca mais olhei ou senti as rosas da mesma maneira. Estou sempre buscando pelos cheiros que senti em Vichy… quem sabe um dia eu volto para lá?

A evolução da rosa nos perfumes

O pioneiro – La Rose Jacqueminot, Coty, 1904. Simplesmente floral rosa

O ícone – Número 5, Chanel, 1921. Floral aldeídico, rosa, jasmim, talcado, metálico e eterno.

A rosa cosmética – Ombre Rose, Jean-Charles Brosseau, 1981. Rosa talcado.

Um capítulo especial: O  mundo de Sophia

Sophia Grosjman, perfumista russa que fez sua carreira na casa de fragrâncias IFF, teve a rosa como principal fonte de inspiração e sucesso.  Ela compôs alguns dos mais emblemáticos perfumes da modernidade, verdadeiras referências de beleza.

Paris, YSL, 1983 – Floral, talcado, rosa, violeta e íris

Eternity, Calvin Klein, 1988 – Floral, especiado, rosa, cravo e jasmim

Trésor, Lancôme, 1990 – Floral, frutal, pêssego, talcado

Outro ícones modernos

Pleasures, Estée Lauder, 1996 – Floral, verde, rosa, pimenta rosa

Stella, Stella McCartney, 2003 – Floral confortável, rosa, peônia, ambarado.

Parisienne, YSL, 2009 – Frutal ambarado.

As minhas escolhas

Depois desse mergulho no universo e na beleza das rosas, vou deixar também por aqui alguns dos meus eleitos pessoais, por conta de sua originalidade e seu estilo.

Petit Chérie, Annick Goutal. Uma pera rosada, delicada e levinha.

Rose Goldea, Bulgari. A rosa de Goldea é tecida com pêssego. Começa fresca, evolui elegante, para usar o tempo todo.

(Nota do BE: mais sobre o Rose Goldea nesta review aqui!)

Red Roses, Jo Malone London. Floral verde bem cítrico, limão, com rosas e folhas de violetas.

Mademoiselle Rochas, Rochas. Rosas e frutas vermelhas, jovial.

Galop, Hermès. A rosa e o couro, ingrediente emblema da marca, trabalhados com a radiância da laranja na saída, e que evolui macio, envolvente, um couro suede.

Esta Flor Rosa, Natura. Rosa feminina, elegante, leve. A flor é total protagonista nesta criação.

Rose 4 Reines, L´Occitane en Provence. Floral feminino frutado. Combina rosa e violeta, cassis e groselha, especiarias e sândalo.

Água de Rosas, Phebo. Floral feminino, rosa, violeta, lírio, musk, fava tonka e baunilha.

E você, também tem alguma história com perfume de rosas para contar? Divida aqui nos comentários se puder, vou adorar conhecer as suas experiências…

PS: para saber mais sobre perfumaria, dá um pulinho no blog da Perfumaria Paralela!

Fotos: arquivo pessoal Alessandra Tucci e divulgação marcas (perfumes)

A minha história na indústria de perfumaria foi longa – trabalhei por 20 anos na Firmenich e na IFF, primeiro como avaliadora olfativa, depois como profissional de marketing e de vendas e finalmente como gestora de negócios para a América Latina. Durante esse período, tive a oportunidade de criar fragrâncias com algumas das pessoas e das marcas mais inspiradoras do mundo. Tantas vivências me ajudaram a desenvolver um olhar bem abrangente sobre esse tema e a me tornar uma especialista  em perfumes, uma educadora e uma consultora para todo esse universo do olfato. Em 2012, abri espaço para meu lado inquieto e curioso e iniciei um projeto próprio: fundei a Perfumaria Paralela, trazendo da França o método de ensino Cinquième Sens - desenvolvido em uma escola de perfumaria com 40 anos de tradição. Além de escola, somos também uma consultoria butique olfativa. Me graduei em Administração com ênfase em comércio exterior, vivi um ano em Nova York, iniciei um MBA em Marketing, fiz uma extensão em Gestão Comercial e cursos de liderança e, nesta minha segunda vida profissional, tenho, como empreendedora, convivido com pessoas e clientes que me inspiram a ser uma eterna "re-aprendedora" sobre assuntos que enriquecem e ampliam o olhar.  Aqui no Beauty Editor, vou dividir com vocês as tendências que radiografo, os destaques do mercado e as últimas movimentações do mundo da perfumaria, sempre de um ponto de vista bem pessoal. Vamos juntos? 

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